Ivone Soares, deputada da RENAMO, reitera, no entanto, que o
maior partido da oposição não vai ceder na exigência de governar nas seis
províncias onde reivindica vitória.
Ivone Soares, na qualidade de líder parlamentar da RENAMO,
esteve desde sexta-feira (09.09) até esta quarta-feira (14.09) a visitar a
província da Zambézia.
No
termo da sua estadia na região, Soares participou numa palestra que contou com
uma boa presença de jovens e onde deixou claro que está "otimista quanto
ao desfecho da atual ronda negocial em Maputo entre o Governo e a RENAMO”, após
cerca de três semanas de interregno.
No
entanto, a dirigente do maior partido da oposição moçambicana deixou claro que
“não haverá acordo na mesa de negociação caso o Governo não ceda as seis
províncias onde a RENAMO venceu as eleições gerais de outubro de 2014”.
A
deputada da RENAMO disse ainda que, caso os guerrilheiros de Afonso Dhlakama
não sejam integrados nas fileiras das forças de Defesa e Segurança de
Moçambique (FDSM), a nova ronda de negociação que está a decorrer desde
segunda-feira (12.09), em Maputo, não terá “grandes resultados palpáveis” .
Esperança
num consenso
O
braço de ferro entre o Governo e a RENAMO reside fundamentalmente em dois
pontos: a governação das seis províncias pela RENAMO e a integração dos
militares do maior partido da oposição nas Forcas de Defesa e Segurança.
Se
não fosse por isso, “o conflito político-militar, entre dois principais
partidos rivais não teria lugar”, afirma Ivone Soares.
Por outro lado, a deputada da RENAMO considera que a FRELIMO
e a RENAMO vão chegar a um consenso na atual ronda negocial.
Ainda
assim, Ivone Soares acusou a FRELIMO de ser o principal mentor da guerra não
declarada em curso no país, porque “continua a não cumprir a Constituição da
Republica de Moçambique”.
Conhecer
bem a Constituição da República
Numa
palestra que orientou na noite desta terça-feira (13.09) na cidade de
Quelimane, província da Zambézia, subordinada ao tema "Desafio dos jovens
em tempo de conflito", Ivone Soares desafiou os jovens da região a
conhecerem de forma profunda a Constituição da República de Moçambique, de
forma a evitar que as suas vidas sejam postas em perigo ao darem satisfação às
exigências do partido no poder, a FRELIMO, “que exige o desarmamento da
RENAMO”, disse.
Tino
Governo, um dos participantes na palestra proferida pela líder da bancada
parlamentar da RENAMO, classificou o partido como fraco e justificou a sua
posição afirmando que “a RENAMO, apesar de ser um movimento que trouxe a
democracia e que resiste a muitos problemas, também que não tem muita
força". E acrescentou que o partido da oposição "só promete fazer
manifestações e, volta e meia, desiste".
"Os
homens armados da RENAMO foram reprimidos pela Força de Intervenção Rápida
(FIR), que chegou à região fortemente armada, decidida a bater e matar as
pessoas. E se a RENAMO não é uma força capaz de enfrentar a FRELIMO, foge. E o
que faremos? Somos obrigados a manter a boca calada", concluiu Tino
Governo.
Um
outro participante na palestra pediu que as leis em Moçambique sejam
reformuladas, afirmando que "a atual governação de Moçambique tem
falhado".
"As
leis existentes são usadas para enganar os doadores e investidores estrangeiros
que trazem cada vez mais dinheiro para o nosso país, dinheiro esse que não
sabemos para onde vai”, considerou.
Sociedade
civil moçambicana lamenta não ter sido convidada para negociações
O
Painel de Monitoria do Diálogo Político (PMDP), que integra organizações
não-governamentais que debatem as negociações de paz em Moçambique, lamentou na
terça-feira (13.09) o facto de o diálogo político ter sido retomado sem a
presença da sociedade civil.
"Lamentamos
o facto de as conversações terem sido restabelecidas sem a presença de membros
da sociedade civil", disse à imprensa Roberto Tibana, membro do PMDP
durante uma conferência de imprensa hoje em Maputo. Segundo o PMDP, o Governo e
a RENAMO haviam manifestado abertura para a participação da sociedade civil no
processo negocial em curso no país, visando a restauração da estabilidade
política.
"Estamos
em contacto com eles, mas até agora não tivemos uma resposta positiva",
acrescentou Roberto Tibana, observando que a intenção dos membros das
organizações da sociedade civil é apenas "observar o processo", para
informarem o povo do que realmente está a acontecer.
“Como
todos os moçambicanos queremos a paz”
A
exigência do envolvimento de membros de organizações da sociedade civil nas
negociações para a paz surgiu no âmbito da conferência Pensar Moçambique,
organizada pelo Parlamento Juvenil, em julho.
O
encontro culminou com a emissão de quatro cartas, destinadas ao Presidente
moçambicano, Filipe Nyusi, ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e aos chefes
das delegações das duas partes nas negociações, Jacinto Veloso, do Governo, e
José Manteigas, do maior partido de oposição.
"Continuamos
preocupados com o rumo que as coisas estão a tomar e, como todos os
moçambicanos, nós queremos paz", afirmou Roberto Tibane, alertando para as
consequências da disseminação de um discurso de guerra por parte das lideranças
políticas moçambicanas, num momento em que as negociações decorrem.
Ultrapassar
a insegurança militar e incerteza económica
Moçambique
deve ultrapassar a insegurança militar e a incerteza económica para poder
atrair investimentos e comércio internacional, defendeu, em Maputo, Richard
Benyon, enviado comercial da primeira-ministra ministra britânica, Theresa May.
Em
declarações aos jornalistas, após se encontrar com o primeiro-ministro
moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, Benyon afirmou que os investidores
estarão relutantes em apostar em Moçambique enquanto prevalecerem as crises
política e militar e económica e financeira.
"A
instabilidade e incerteza na economia é o que preocupa os homens e mulheres de
negócios neste momento, se isso for vencido, o potencial é enorme",
afirmou o enviado comercial da primeira-ministra britânica.
É
crucial restaurar a estabilidade
Richard
Benyon exortou as autoridades moçambicanas a encontrarem uma solução para a
atual crise política e militar, enfatizando que é crucial a restauração da
estabilidade como condição para o desenvolvimento económico.
As
enormes reservas em hidrocarbonetos de que Moçambique dispõe, prosseguiu
Benyon, geram expetativas de um futuro brilhante no médio e longo prazo para o
país e o Reino Unido está pronto para ajudar.
"Há
40 anos, descobrirmos reservas de hidrocarbonetos no Mar do Norte e não
tínhamos experiência, tivemos que contar com a ajuda de fora, agora é a nossa
oportunidade de ajudar um país amigo a explorar as enormes reservas que vão
beneficiar o povo moçambicano", declarou.
O
enviado comercial do Reino Unido apontou ainda o comércio e a formação
técnico-profissional como área de grande potencial na cooperação com
Moçambique.
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