O computador mudou o olhar sobre o mundo e pode estar a mudar a nossa visão
O monitor aproxima as pessoas, facilita o acesso ao conhecimento, porém, causa problemas de vista. Olhos vermelhos, cansaço ocular, visão desfocada e dor de cabeça não são apenas queixas e desconfortos normais para quem fica horas a fio à frente da tela. São sintomas do Síndrome Visual do Computador.
O consultor de vendas Mário Macuácua conhece bem estes sintomas. Sem muito esforço, percebe-se porquê. Tem 42 anos e há 18 tem o computador como instrumento de trabalho. Nos últimos nove anos, Mário passou a ficar mais de oito horas diárias perante o monitor e desenvolveu problemas de vista.
“Bastavam apenas três horas à frente do computador e já me sentia cansado. Sentia uma irritação na vista e, no período da tarde, sentia uma dor de cabeça muito forte”. Por recomendação de um amigo, fez uma consulta de oftalmologia e, desde então, usa óculos.
À Rebeca Nhangale foram receitados óculos há quatro anos pela mesma razão e nesse período teve de mudar a graduação das lentes por três vezes. “Numa primeira fase, foi atribuída uma graduação de 0.25 e, na altura, os óculos eram só para quando estivesse a ler ou a ver televisão”, conta. Mas porque a gestora de clientes trabalha todo o dia diante do ecrã, a graduação aumentou para 0.5.
A explicação é de que a concentração reduz o número de vezes que piscamos os olhos. Normalmente, um ser humano pestaneja entre 16 e 20 vezes por minuto, mas, olhando continuamente para um monitor, essa taxa chega a cair para seis ou oito piscadas por minuto. “O pestanejar é um processo fisiológico importante, porque nesse processo nós lubrificamos os olhos. Quem fica muito tempo em frente à tela pestaneja menos, os olhos ficam secos, doem e passa a ter sensibilidade à luz aumentada”, explica Mariamo Mbofana, oftalmologista e directora do Programa Nacional de Oftalmologia, do Ministério da Saúde.
Estudos internacionais estimam que 70 milhões de trabalhadores, em todo o mundo, estão em risco de sofrer este tipo de lesão ocular ou outra mais grave, um número que vai continuar a crescer.
Mas o computador não é o único factor de risco. Muitas vezes, o perigo anda nas nossas próprias mãos, através dos smarthphones e tablets. Em Moçambique não existem estudos sobre o assunto, mas uma pesquisa britânica feita com 2 mil participantes indica que pessoas com menos de 25 anos ficam em contacto com os seus telefones 32 vezes por dia.
Crianças e idosos são os mais vulneráveis. É que as crianças têm pouco autocontrolo e os idosos têm mais dificuldade de lubrificação dos olhos.
Primeira causa de procura pelos serviços de oftalmologia
Numa primeira fase, a exposição excessiva a ecrãs causa um problema denominado erro de reflexão, que ocorre quando os olhos não conseguem focar as imagens correctamente na retina, resultando em visão embaçada. No Hospital Central de Maputo, mais de metade dos 250 doentes atendidos por dia têm este problema. “Não estar a ver bem é a primeira causa de procura de serviços de oftalmologia e, muitas vezes, o mal-estar tem a ver com este problema de erros de reflexão”, diz Mariamo Mbofana. A oftalmologia recomenda alguns cuidados, como manter uma distância de 50 a 75 cm do ecrã; o topo do monitor deve estar à altura dos olhos; o monitor deve ter uma inclinação de 10 a 20 graus e encosto adaptado à curvatura da coluna. O “mouse” deve esta próximo ao teclado e no mesmo nível.
Fonte: Opais
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