NO exercício das suas funções, os jornalistas não se devem deixar intimidar face aos ataques armados que lhes são movidos pela Renamo. Pelo contrário, devem continuar a exercer as suas competências e atribuições com zelo e profissionalismo, contribuindo assim para o desenvolvimento multifacetado do país.
Esta reacção pertence a várias personalidades, dentre profissionais da comunicação social, políticos e académicos inquiridos pelo nosso Jornal a propósito do ataque armado levado a cabo semana passada contra uma coluna de viaturas em que foram atingidos dois veículos da Rádio Moçambique e da Televisão de Moçambique transportando equipas que se deslocavam a Macossa para a cobertura da visita de trabalho do Presidente da República, Filipe Nyusi. O ataque ocorreu no distrito de Báruè, Manica, provocando ferimentos a um jornalista e danos materiais.
Os nossos entrevistados consideram este ataque como sendo “repugnante” e contrário a um dos pressupostos básicos da democracia: a liberdade de imprensa.
Para o Sheik Aminudim Muhammad, do Conselho Islâmico de Moçambique, não se compreende o por quê de a Renamo insistir em atacar alvos civis na guerra que está a mover contra o Governo.
Segundo ele, o partido de Afonso Dhlakama deveria parar, imediata e incondicionalmente, com as hostilidades militares, pois elas não contribuem em nada para a resolução dos problemas que o país enfrenta.
“Na religião islâmica e não só as guerras não são permitidas. Porém, em caso de elas ocorrerem, apela-se para que esta se desenvolva sob certos princípios éticos. Assim, recomenda-se que no desenrolar das incursões armadas não sejam atacadas mulheres e crianças ou infra-estruturas públicas como hospitais, escolas, fontanários, lugares de culto, estradas, caminhos de ferro, entre outros bens que contribuem para a melhoria de vida da população”, disse.
Acrescentou que é também vetado o ataque a cidadãos civis, sobretudo os cuja actividade é assistir pessoas, como seja médicos, enfermeiros, professores, entre outros, incluindo jornalistas.
“A missão dos jornalistas é ir buscar informação e trazê-la para consumo público, de modo a manter os cidadãos informados e em condições de tomar decisões sobre a vida da comunidade em que se encontram inseridos”, sublinhou.
Na oportunidade, Aminudin Muhammad condenou o conflito em si e manifestou o desejo de ver as partes a desenvolverem um diálogo aberto que permita resolver, em definitivo, o mais cedo possível os problemas que estão por detrás destas hostilidades.
“Queremos apelar para que o líder da Renamo aceite o convite do Chefe do Estado e se disponibilize a vir a Maputo para, em sede do diálogo, ambos ultrapassarem as diferenças e fazerem com que a paz e estabilidade efectiva voltem ao convívio dos moçambicanos”, exortou.
Situação muito triste
D. Dinis Sengulane, bispo jubilado da Diocese dos Libombos, considera “bastante triste” a situação de conflito armado que o país atravessa.

O religioso manifestou a sua adversão em relação à situação, lamentando a perda de vidas humanas que a cada dia são reportadas pelo país.
Segundo disse, este conflito não tem razão de ser.
“Pessoalmente, não encontro qualquer tipo de explicação para a existência desta situação. Os moçambicanos não merecem isto”, frisou.
Sengulane foi mais longe, referindo que nenhum moçambicano com “a cabeça no lugar” é indiferente a esta situação, daí que apelou para que os cidadãos, de forma individual, façam cada vez mais para que as hostilidades militares cessem o mais cedo possível.
“Se a situação ganhou os contornos que actualmente apresenta, significa que nenhum de nós fez o suficiente para evitar a guerra, a morte de concidadãos nossos e a destruição de infra-estruturas. Neste contexto, o meu apelo é para que façamos um pouco mais”, exortou.
Depois de defender a cessação imediata dos ataques armados da Renamo, o bispo dos Libombos, tal como os demais cidadãos por nós contactados, sensibilizou o líder da Renamo a privilegiar o diálogo, de modo a encontrarem-se soluções visando pôr fim o diferendo que opõe aquele partido da oposição e o Governo.
“A forma de se resolverem as diferenças é o diálogo. O homem deve saber interagir, através do diálogo, com o seu semelhante, em qualquer que seja a situação. Ninguém tem o direito de tirar a vida ao outro”, frisou.
Na oportunidade, Dinis Sengulane deixou um vigoroso apelo aos profissionais de comunicação social no sentido de continuarem a exercer a sua profissão com brio e profissionalismo, sem se sentirem intimidados pelos acontecimentos de Báruè, em Manica.
“Apelo aos jornalistas para que continuem a ser o veículo das mensagens de paz e reconciliação, porque eles atingem lugares mais recônditos do país do que qualquer um de nós”, enfatizou.
Um crime hediondo

PARA Lourenço Jossias, editor do semanário Magazine Independente, o ataque dos homens armados contra viaturas da Rádio e Televisão de Moçambique se consubstancia crime hediondo, condenável a todos níveis.
Segundo Jossias, o líder da Renamo deve, imediatamente, mandar parar as incursões armadas perpetradas pelos seus homens, sobretudo contra alvos civis, como seja centros de saúde, escolas, postos administrativos, entre outros que não têm nada a ver com as diferenças políticas existentes entre este movimento político e o Governo.
Segundo o nosso interlocutor, o facto de a Renamo apostar em actos de violência armada em detrimento do diálogo pressupõe que esta organização não tem nenhuma agenda política que pretende realizar.
“O líder da Renamo deve deixar de praticar a guerra e concentrar-se no debate político. Ele deve sentar com o Governo e discutir a descentralização administrativa do país, o cenário pós-eleitoral e outras questões que estão em cima da mesa do diálogo político. Deve deixar de continuar a disparar contra tudo e todos e prosseguir uma agenda política que contribua para a melhoria das condições de vida dos cidadãos”, sublinhou a fonte.
Visivelmente agastado com a situação, apelou às entidades competentes no sentido de perseguirem os autores dos ataques contra civis, de modo a responsabilizá-los.
“É preciso que fique claro que à luz das convenções internacionais o ataque militar a jornalistas consubstancia crime de guerra, um crime contra a liberdade de expressão”, enfatizou Jossias.
Não ceder a chantagens
LOBÃO João, director do semanário “Canal Moz”, considera que os ataques militares da Renamo contra alvos civis, com destaque para jornalistas, constitui uma estratégia de negociar, em posição de força, e assim obrigar o Governo a ceder às exigências políticas daquele partido.
“O Governo não deve ceder à essa chantagem da Renamo. O partido de Afonso Dhlakama não pode usar a força militar, não pode se valer da perda de vidas humanas para atingir os seus objectivos políticos”, afirmou.
Para aquele profissional da comunicação social, o acto protagonizado pela Renamo contra jornalistas da Rádio Moçambique e da Televisão de Moçambique traduz um crime de guerra, condenado não só pela sociedade moçambicana, mas também por convenções internacionais de que Moçambique é subscritor.
Em palcos de guerra, segundo disse, o jornalista, ao abrigo da III Convenção de Genebra sobre Liberdade de Imprensa, não deve ser alvo de ataques armados, em nenhuma circunstância. Neste contexto, apela-se aos órgãos competentes para accionarem mecanismos com vista à responsabilização dos mentores morais e materiais deste ataque.
“Felizmente não há vidas humanas a lamentar mas o impacto desta acção é negativo para todos os profissionais de comunicação”, reconheceu para depois apelar aos medias para que continuem a exercer o seu trabalho com maior brio profissional, pois “nada nos deve impedir de realizar a nossa missão”.
Na ocasião, Lobão João lamentou o facto de estas hostilidades militares estarem a atrasar o desenvolvimento económico e social do país e a elevar, cada vez mais, a carestia da vida.
“Esta situação em nada ajuda. O investimento nacional e estrangeiro está cada vez mais a retrair. O desemprego sobe em flexa. A produção está a baixar”, lamentou, para depois culpar a Renamo por perpetuar um clima de instabilidade no país.
Qual é a mensagem da Renamo?

De acordo com Jossia, os jornalistas, tal como outros cidadãos civis, em caso de conflito armado, devem ser protegidos e não atacados, como aconteceu em Báruè, província de Manica, na passada quinta-feira.
“Com este ataque velado à RM e TVM que tipo de mensagem é que a Renamo pretende transmitir?”, questionou.
Segundo Jossia, se os liderados por Afonso Dhlakama acreditam que a Rádio e Televisão de Moçambique não estão a transmitir correctamente as mensagens por eles emitidas, que procurem manifestar esse desagrado de outras maneiras e não com recurso a armas de fogo, pois, assim sendo, estarão a dar uma resposta de forma desigual.
De acordo com Carlos Jossia, os diversos organismos representativos dos jornalistas, como sendo o Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ), o Conselho Superior de Comunicação Social (CSCS), o MISA-Moçambique, entre outros, devem condenar, veementemente, este ataque a jornalistas, que traduz um crime hediondo, cujos autores deveriam ser responsabilizados.
Na ocasião, Carlos Jossia encorajou os profissionais da media a continuarem a exercer a sua actividade, de modo a garantir-se que os moçambicanos e não só continuem a ter acesso à informação, uma informação que se pretende cada vez mais isenta, independente, que ajude a desenvolver o país.
“Não nos devemos sentir intimidados, pois Moçambique atingiu um patamar de liberdade de imprensa que não deve ser posto em causa em nenhuma circunstância”,

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