No arranque do VII congresso, José Eduardo dos Santos garantiu que o partido “nunca abandonou o povo”. Ambrósio Lukoki, militante histórico, diz que a “impopularidade” do líder está a contribuir para a queda do MPLA.
Milhares de pessoas, entre militantes, convidados e diplomatas, estiveram concentrados esta quarta-feira (17.08) nos arredores de Luanda para a abertura do VII congresso ordinário do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que decorre sob fortes medidas de segurança.
O conclave, que termina a 20 de agosto, vai eleger José Eduardo dos Santos, único candidato à sua sucessão ao cargo de presidente do partido. Não se sabe ainda a quem caberá o cargo de vice-presidente, até agora ocupado pelo histórico militante Roberto de Almeida.
O encontro prevê também, na sexta-feira (19.08), a confirmação da nova composição do Comité Central, liderada por José Eduardo dos Santos, na lista única a ser sufragada pelos congressistas igualmente na sexta-feira.
Ambrósio Lukoki, histórico militante dos “camaradas”, pediu que o seu nome fosse retirado desta lista do Comité Central. Em conferência de imprensa, esta terça-feira (16.08) apontou o dedo a José Eduardo dos Santos por estar a “prejudicar a imagem do partido no poder” com a sua “impopularidade”.
Apoiantes do MPLA na campanha eleitoral de 2012
“O Presidente do partido e chefe de Estado, registando uma impopularidade recorde pelas suas desinteligências, conota o partido e arrasta na sua queda certos inocentes”, sublinhou Lukoki.
No discurso de abertura do congresso, o tom do candidato único à liderança do partido foi mais optimista, com José Eduardo dos Santos a afirmar que "este MPLA é o grande partido da família angolana” e “está preparado para o combate político, para ganhar as próximas eleições e para continuar a governar a República de Angola, correspondendo aos anseios das populações".
Ao lado do povo angolano?
A sociedade angolana continua em choque depois da morte a tiro de Rufino António, adolescente de 14 anos, na onda de demolições a decorrer no Zango II e III, nos arredores de Luanda.
Discursando no ato central de abertura do VII congresso ordinário do MPLA, Eduardo dos Santos não se referiu ao incidente, mas disse que o seu partido “nunca lutou contra o povo” angolano.
“O MPLA nunca abandonou o povo”, garantiu o chefe de Estado. “Assim construímos um grande partido, um partido que não é do sul, não é do norte, não é do leste, mas de todo povo de Angola, de Cabinda ao Cunene”.
Ambrósio Lukoki tem um pensamento diferente. “Nós, os dirigentes do partido e do Estado, continuamos a enviar mensagens ou sinais coercivos e destrutivos que cada vez mais e sempre continuam separar-nos do eleitorado”, sublinhou, esta terça-feira.
O chefe de Estado assumiu ainda que é preciso reduzir a alta taxa de mortalidade infantil no país, classificando como “uma grande preocupação” as mortes de “crianças recém-nascidas e de mulheres gestantes que aumentam por causa da incidência do paludismo”.Durante a intervenção de 35 minutos, no arranque do congresso, o Presidente angolano mostrou-se preocupado com a febre-amarela, que, desde dezembro, já matou mais de 360 pessoas no país. José Eduardo dos Santos lamentou “o luto e dor no seio de muitas famílias, apesar do sacrifício e empenho” dos serviços de saúde angolanos.
Críticas à corrupção empresarial
Assumindo o "momento crucial" que Angola vive, devido à crise financeira e económica provocada pela quebra nas receitas petrolíferas, Eduardo dos Santos disse que é necessário adoptar políticas para evitar a dependência do petróleo e apelou à "criatividade" dos empresários nacionais. Pediu apoio aos “empresários que sabem realizar licitamente os seus negócios no mercado interno e externo, para conquistarem riqueza e contribuíram para aumentar o emprego e fazer crescer a economia".
José Eduardo dos Santos deixou ainda um aviso à classe empresarial: "Não devemos confundir estes empresários com os supostos empresários que constituem ilicitamente as suas riquezas, recebendo comissões a troco de serviços que prestam ilegalmente a empresários estrangeiros desonestos, ou que façam essas fortunas à custa de bens desviados do Estado ou mesmo roubados".
Sucessão gera dúvidas
Em março, José Eduardo dos Santos anunciou a sua retirada da vida política ativa, em 2018, sem, no entanto, esclarecer se será ou não o cabeça de lista do seu partido nas eleições gerais previstas para agosto de 2017.
A questão da sucessão de Eduardo dos Santos - tanto no partido como no Estado - tem gerado várias críticas e sugestões e continua na ordem do dia, depois do arranque do congresso.
Na lista de propostas a membros do Comité Central do MPLA constam os nomes de alguns dos filhos do Presidente, como o de “Tchizé” dos Santos, atual deputada na Assembleia Nacional, o que tem acentuado o tom das críticas a uma possível pretensão de José Eduardo dos Santos de preparar um dos seus filhos para o substituir.
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